Enquanto houver a preocupação com o processo ensino-aprendizagem resta uma esperança...
José Paulo Paes me diria “Responda você que é um sabichão”, o fracasso escolar é decorrente de um sistema cruel ou causa da marginalização? Essa é a pergunta que não quer calar e tão pouco sei a resposta.
Falar do fracasso escolar requer uma reflexão madura, lógica, sem alegorias, sem achismo ou sem colocar a culpa no sistema.
A criança quando inicia sua vida escolar quer ser alguém, acredita que a escola servirá de ponte para um futuro melhor. Realmente nossa cultura indica que só através da educação conseguiremos vencer as barreiras do preconceito, pobreza, da mediocridade cultural, das ideologias positivistas. Mas a educação que oferecemos não indica que caminho seguir, não dão as 10 dicas infalíveis para ser uma “pessoa”, e não cidadão de sucesso.
Recentemente críticos conceituadíssimos e, diga-se de passagem, brilhantes como Fernando Capovilla, Luíza Elena R. do Valle e outros, alertaram todo o “Sistema” que os PCN’s não funcionam que, ao contrário, fazem com que os professores desaprendam a ensinar.
Como se não bastassem as críticas, as estatísticas santas e incontestes comprovam, pois o fracasso escolar há décadas é nosso companheiro de jornada.
Epistemologicamente não sei o que fazer, talvez conhecendo o método fônico sugerido pelos críticos, talvez adotando as regras seguidas pela Coréia do Sul (Veja/ fevereiro de 2005), não sei estou em crise assim como a educação brasileira está.
O fracasso escolar, esse monstro perverso, destrói a auto-estima, macula o afeto, inibe o ser. São conseqüências funestas, se pensar que estamos co-agindo nessa situação, pois somos nós também parte desse sistema.
Poderíamos considerar que só os pobres evadem da escola, que só os pobres fracassam, mas seria positivismo demais, nas classes médias e altas também há fracasso, também há evasão. Então o problema não é só social, tem algo mais.
A ideologia da classe dominante poderia ser um fator que contribui para o fracasso, mas, a escola também com sua problemática enorme afirma que a culpa não é dela, então resta-nos o único culpado: o aluno, esse vilão que nos rodeia.
Por que não se esforçar?
Por que teimar em não aprender?
Por que agredir os seus, ou seja, os próximos?
Por que continuar na inércia social e catastrófica em que se encontra?
Essas são questões que só os mais ousados atreveriam a responder.
O professor-pessoa, capaz de ver o lírio nascer da lama, sabe onde chegar e essas questões lhe tiram o sono, lhe roubam a paz e causam insônia, mas isso o MEC não adverte.
A reforma ou diríamos, a força-tarefa deveria mobilizar todos os setores da nação. Conter o fracasso escolar seria o ato mais honroso e não compensatório que uma sociedade justa possa fazer aos seus filhos. Buscar soluções, encontrar meios para salvar através da educação deveria ser a meta de todos.
Culpar o governo, o sistema, a escola, a professora, a família, o aluno já não nos cabe mais, pois vemos que há causas para o fracasso.
Gostaria de retomar ao menu principal e falar sobre o afeto.
O que diria o nobre Pescador de almas se no sinal encontrasse meninos fora da escola, com 9 anos se prostituindo? Pense nisso.
Professor, esta pergunta lhe será feita: O que fizeste dos alunos que te confiei?
O afeto nos coloca essa situação, o que estamos ensinando? Que pessoas estamos formando? Lembro-me do texto de Jhon White. Eu ensinei todos eles. Será que ensinou mesmo?
De onde nasce o afeto entre aquele que ensina e aquele que aprende?
Creio eu que nasce a partir do respeito, passando pelo desvendamento da pessoa, interessando-se pela sua história, pois “a pessoa” tem história, não é apenas cidadão, que ocupa as cadeiras da sala de aula.
Falando mais sobre o afeto como causa principal do sucesso escolar vale ressaltar que nem todos têm a mesma origem, nem todos têm a mesma cultura, as mesmas habilidades, porque cada ser é único, individual e cada um tem o seu potencial. Se abordássemos a questão do afeto como fator imprescindível na educação, toda uma estrutura melhoraria e seríamos os pioneiros a educar com amor para superar os problemas daqueles que convivem com a dor. Propõe-se aqui uma ruptura com o assistencialismo patético e humilhante, pois apenas fere aquele que recebe.
A postura didático-pedagógica não deve soar falsa, demagógica, mas deve ser daquele que já fez sua opção e luta por uma vida melhor, mostrando a todos o por quê e há quê veio. Combater o fracasso escolar deveria ser a missão e não apenas ensinar palavrório para as crianças, fazer a leitura do mundo real é o mínimo que nós professores /pessoas/ afetivos deveríamos propiciar; o afeto deveria ser incluído no código de ética do magistério. É tempo de humanizar o processo ensino-aprendizagem para que a esperança volte a gritar em olhos e corações daqueles que acreditam que dias melhores virão.
Jane Maiolo
Profª da Rede Municipal de Ensino de Jales
Formada em Letras pela UNIJALES e
Pós-Graduada em Psicopedagogia pela F.E.F.
e-mail: janemaiolo@bol.com.br