Por Jane Maiolo
A crescente preocupação com os rumos da Educação nos leva, muitas vezes, a pensar em muitas coisas. Coisas perigosas, que na verdade nos deseducam, atordoam e nos deixam com uma raiva danada daqueles que pensam a Educação.
Por quê nós professores e professoras temos que fazer o que os outros pensaram?
Por quê temos que ser tão burocráticos, tão formais e documentados?
A Educação não se resume em conteúdo-assimilação-avaliação. A Educação é muito mais . É patrimônio, é bagagem, é valor. A Educação é participativa.
Nesse caso sabemos que diariamente assinamos um contrato de risco, isso é próprio da nossa profissão. O professor é um ser público e privado que influencia, direciona, oferece oportunidades e promove sucessos e insucessos.
Lidar com muitas individualidades ao mesmo tempo, como faz o professor, requer de nós um equilíbrio muito grande, pois numa mesma sala de aula existem muitas emoções, histórias, conflitos, discussões e comportamentos nem sempre desejáveis. Estamos mediando e canalizando todas essas energias, por isso que digo que ao receber o diploma assinamos também um contrato de risco.
Que nossa sociedade mudou, isso não há dúvidas, que nossa comunidade escolar mudou é conseqüência dessa mesma transformação social, e a nossa metodologia creio eu não sofreu tamanhas alterações. Queremos hoje, em tempos modernos, educar nossos alunos como fomos educados.
Freqüentemente ouvimos as reclamações de professores assustadíssimos que dizem: No meu tempo jamais falaria assim com meu professor, ...No meu tempo o aluno não ficava andando na sala de aula, ...No meu tempo... E as reclamações ganham vultos, os alunos se transformam em quase monstros em tão perdidas observações saudosistas tradicionais, e se ouvirmos um pouco mais de reclamações começamos a acreditar que são os monstros-dicentes que apavoram os professores desprotegidos.
Por isso que digo que não temos que fazer o que os outros pensaram, temos que dar cara, roupa e sapato novo para a Educação e de preferência de grife, pois são as mais aceitas no mercado e na sociedade .Chega de Educação de R$ 1,99.
Temos que fazer a diferença, somos formados para isso, para dizer não, para dizer sim, para mudar, para formar e informar seres humanos. Chega de reproduzir informações, modelos e cidadãos para o mercado de trabalho.
Temos que contribuir, e diga-se de passagem, com afeto e compromisso para que nossos alunos sejam livres, que tenham caráter, que saibam ser patrões e que tenham dignidade em disputar a vida buscando seu crescimento profissional, intelectual e moral.
Não podemos mais escorar na Constituição que diz que a Educação é dever da família. A Educação hoje é dever de todos, pois a família precisa de nós professores para se estruturar, e nós professores precisamos dos filhos da família para exercer nosso brilhante papel de Educadores.
Nossa responsabilidade enquanto profissionais não é apenas a formação de habilidades para as competências, mais de desenvolver inteligências para fazer homens de bem. É preciso dar segurança às nossas crianças que se encontram inseguras e ansiosas.
Nunca nos arrependeremos de termos sidos atores coadjuvantes nesse processo fantástico .
Falamos muito sobre como educar, mas, como professora, não poderia deixar de falar sobre o professor. Se nós cuidamos para o sucesso do aluno, quem cuida do nosso sucesso? Imagino que somos guerreiros solitários que devemos atribuir à nós mesmos nossas glórias e derrotas. Ninguém mais se incomoda com o professor, nossa Classe perdeu a classe, somos mal-remunerados, pouco reconhecidos e pesquisas cruéis mais verdadeiras revelam que 92% dos professores brasileiros estão estressados.
Na Coréia do Sul, os melhores partidos para se casar são professores, pois ganham $6 mil dólares por mês, e no Brasil fala-se que é professor e o pretendente dá no pé. Salvo algumas exceções de maridos e esposas tolerantes, amorosos e persistentes. Ninguém mais acredita que o professor possa sair desse quadro, e digo mais, só cursos de formação continuada e bônus não resolvem e nem elevam nossa auto-estima, existe um componente a mais... que é a valorização salarial do professor, que há muito ficou para traz. Houve um tempo que juizes e professores tinham salários compatíveis. Será que os juizes estão ganhando tão mal como nós?
Aprendemos recentemente que não podemos mais usar a expressão “capacitação” para professor, porque se assim o fizermos acredita-se que até então seríamos incapazes, o mesmo acontece com a expressão “reciclar”, pois só se recicla lixo.
Somos professores e não devemos desistir de lutar por nós mesmos.
Quando digo que não devemos fazer o que os outros pensaram é com a mais pura intenção de que nesse momento histórico que estamos vivendo é preciso arregaçar as mangas e ter coragem para negar toda forma de alienação, opressão e subjugação. É hora de retomar nossa identidade e mostrar que somos sim, professores brilhantes e fascinantes .Ter criticidade e discernimento para resgatar o nosso papel é fundamento básico nessa busca.
Queremos copiar a economia do primeiro mundo e no entanto não modificamos a estrutura educacional do nosso país. A quem estamos servindo? Qual a real intenção da nossa Educação? Que tipo de homens estamos formando? É preciso questionar tudo isso.
Será que existe uma cúpula que pensa a Educação, que cerceia nossos pensamentos e limita nossa liberdade?
Se pretendemos adotar modelos de países de primeiro mundo temos que investir na Educação como fazem esses países. Não dá mais para ficar formando mão de obra barata para esses países, temos que ter ambições também. Não somos abelhas operárias que nascem operárias e morrem operárias. Somos criaturas em ascensão na hierarquia humana e podemos mudar nossas vidas se assim o desejar.
Gandhi é lembrado mundialmente pela sua técnica de resistência não-violenta, muitas vezes foi preso, surrado e exilado porque tinha um ideal, nós professores e professoras deveremos marcar nossa trajetória com algo também grandioso.
Que nossas preocupações com a Educação sejam de caráter humano sem esquecer que há um mundo imenso para ser vivido e sentido. Devemos nos permitir integrar, interagir e modificar esse mundo.
Para não mais fazer o que os outros pensaram, pense você qual o melhor jeito de educar, já que esse é seu papel, professor!!!
Jane Maiolo, é professora da Rede Municipal
de Ensino de Jales. Formada em Letras pela
Unijales e pós-graduanda em Psicopedagogia
pela Fundação Educacional de Fernandópolis.
E-mail: janemaiolo@bol.com.br